[Treinamento] flores

Afastado dos campos cheios de furor de Martis, na planície que jaz à sombra das montanhas, que dorme sob a luz do luar sem uma copa de árvore sequer para interromper o banho, mas que sofre impotente diante dos raios de sol, Elizabeth encontrou seu lugar ideal para treinar, na solidão que somente lhe é ocasional, já que outros que, assim como ela, por algum motivo se afastam dos demais. Fim de tarde, o céu murchava de seu azul para o roxo, o sol morrendo distante no horizonte e ainda sem sinal da lua. O firmamento, até ir se juntar com a terra, muito longe, naquelas planícies sem nome, se desfazia em tons, um degradê, azul, azul-escuro, roxo e verde, a grama, a relva, o descampado e Elizabeth. O cheiro dominante era o da selva, como se pudesse sentir um riacho correndo por trás da orelha, um macaquinho passando sobre a cabeça, o vento soprando através das vestes, galhos partindo, folhas caindo; mas a realidade é que o cenário era um tanto menos vivo, verde até perder de vista, sem flora senão pela grama selvagem, sem fauna senão por Elizabeth. Ali, em contato com a natureza, mesmo que não fosse druída, mesmo que não conhecesse nada das artes élficas, aqueles homens altos com ar de divino, sagrado, que ela via passar pelas ruas de Martis em momentos muito oportunos, como aparições de um cometa, de centena em centena — mesmo assim sentia uma ligação com todas as coisas ao estar ali, pois viera da terra como todos os outros e sua mana pulsava mais forte quando ela se sentava ali e cruzava os pés, com o nariz a absorver as informações trazidas pela brisa de fim de tarde. Ela imaginava dentro de si a mana dançando, como um rio carregado pela corrente, mas não era pura imaginação, porque o processo em si acontecia conforme ela meramente o achava estar acontecendo, conjecturas que seu poder faziam transbordar de fora para dentro, o sinal humano sobre a coisa sem forma e sem nome, já que mana fora atribuído sem qualquer consentimento daquilo, que ela recusava em chamar de energia, sabendo que não poderia uma energia agir de forma autônoma como ela tinha visto acontecer com ela mesma, quando os corvos explodiram em pleno ar e foram resolver com o bêbado no beco. Sua meditação era diária, mas num dia sentia-se melhor, mais no controle da situação, tinha o rio fluindo sereno, porém com rumo certo. Como agora.

Hp: 250; Mp: 450; Energia: 0/3.

Spoiler: