[Ficha de Personagem] Alsya Undine

 Nascida de uma flor aquática, a nenúfar, não se encontrou de imediato em uma convivência amigável. Fadas costumam nascer já maduras e saudáveis, por meio da magia e mana, da certas plantas, normalmente estas sendo árvores poderosas ou flores cobiçadas. Uma fada vinda de uma simples flor aquática, uma fada de pele escura, dificilmente seria aceita por certas comunidades féericas, que ainda insistem em manter suas “tradições”.
 Alsya cresceu solitária e rancorosa, e sofreu muito no início, quando ainda não havia desenvolvido uma barreira emocional. Sim, até mesmo no mágico reino das fadas viam-se problemas, preconceito e desigualdade. Desenvolvia seus poderes sozinha, praticando e experimentando, já que não havia quem ensinar. Erros e tentativas, tudo a levou até a qualidade.
 Certo dia, enquanto voava às margens do rio no qual nascera, afastada de sua comunidade, a fada encontrou uma cabana simples, aparentemente recente, beirando tais margens. Arriscando-se, procurou por aquele ousado ser que se aventurava nos territórios féericos, mesmo que ela não costumasse interessar-se por coisas assim. Ao olhar por trás da improvisada janela, Alsya não viu coisa alguma, de início. Até que notou uma halfling lá dentro, anteriormente agachada, mexendo na madeira do chão. Era uma criatura curiosa aquela, diferente de todos animais e fadas que já vira. A pequena vira que tinha companhia do lado exterior, e fora até lá, com cara de poucos amigos. Após algumas explicações aqui e ali, respostas curtas e grosseiras de ambas as partes, Alsya resolveu ir embora, de volta para o lugar onde morava. Mas ela retornou no dia seguinte.
 Tornara-se uma rotina, todos os dias, no mesmo horário da manhã até o início da tarde, a fada ia até o ponto, ver a cabana e sua moradora. Havia certa tensão, de início, entre ambas criaturas, mas logo acostumaram-se e, mesmo com as discussões, agora em tom brincalhão e provocativo, pareciam se dar bem. Ambas eram ovelhas negras dentro da sociedade em que estavam inseridas, ambas não eram bem vindas no lugar em que costumavam viver. Uma amizade logo se instaurou, provavelmente a primeira das duas.
 Uma relação forte e confiável, repleta de uma ironia e zombação saudáveis, e tanto a fada quanto a halfling sentiam-se realizadas. Parecia que seus problemas lentamente eram amenizados e deixados de lado, com a companhia uma da outra substituindo a tudo. Discutiam, divergiam, divertiam-se e riam, faziam de tudo. Ensinaram técnicas uma a outra, confiaram segredos, trocaram afeto.
 Tudo corria maravilhosamente bem, nunca algo havia sido melhor. Certo dia, enquanto Alsya preparava à sua companheira a prato favorito da mesma, carne de ganso com especiarias, ao molho de tomates e caldo de carne de búfalo, a fada percebeu que a outra estava demorando para trazer os temperos que tanto gostava. Ao sair para procurá-la, após cuidadosamente deixar a carne de ganso descansando, reparou sinais de estranha movimentação e tumulto no lugar onde a halfling costumava colher suas ervas. Ao investigar mais a fundo, descobriu que a mesma havia sido levada por algo ou alguém, contra a sua vontade.
 Alsya investigou, utilizando da análise ensinada pela amiga, tentando rastreá-la, suas asas aquosas chacoalhando freneticamente. Ela pressentia algo, tinha uma sensação de algo ruim acabaria por acontecer. Por fim, após procurar muito pela companheira, a fada a encontrou. Jazia no chão, violentada e agredida, imóvel. Não parecia natural, e definitivamente não era. Alguém havia feito aquilo a ela, e Alsya suspeitava de que seria. Mas não adiantava lamentar. A halfling parecia gravemente ferida, senão já morta.
 Assim sendo, a fada utilizou seus poderes e magia, transformando assim seu corpo, a fim de usar a mana para salvar a amiga. Utilizava todos os feitiços de cura que tinha conhecimento, tentava vezes e vezes, sem sucesso. Por fim, em uma de suas últimas tentativas, com a mana já esgotada e o repertório de magias, acabado. A até então amiga pronunciou três palavras, abriu sua boca três vezes. E esse silencioso "eu te amo" proferido disse muito mais do que genuíno amor. Mostrava à fada carinho, preocupação, desejo, orgulho, lamúria, alegrias. Por fim, seu último suspiro esvaiu-se.
 Desse modo, Alsya resolveu abandonar o reino que vivia, em conflito com sua própria espécie, em especial as de mesma origem. Voando, foi até a grande capital, onde pessoas de diversos tipos e estilos encontravam-se, onde oportunidades seriam encontradas. A fada queria aprender a utilizar adequadamente sua magia aquática, a qual fora reprimida, mesmo que nem tanto, na sociedade féerica, desejava aprender a tratar e curar, a ser, finalmente, alguém, do mesmo modo que lhe estava sendo ensinado.