[Ficha de Personagem] Simon M. Stilinski

Minha história começa em uma noite chuvosa. Raios ecoavam pela floresta e assustavam todos os animais de Nifir, um vilarejo desconhecido em meio a uma floresta de Adaces, onde a população é majoritariamente Nekomatas. Uma mulher corria com toda sua velocidade para escapar de outras pessoas que tentavam a acertar com arpões, pelo simples fato dela não ser como as outras.

Suas orelhas de gato estavam molhadas com a chuva, seu rosto tinha uma expressão de desespero, mas o mais importante: ela quase não enxergava naquela escuridão. A baixa visão e a pressa com que fugia fez com que ela não vesse que aquela floresta estava no fim, e apenas quando estava caindo, notou o reflexo que a lua fazia na água e que aquele era o seu trágico fim.

Conforme ela submergia ela tentou alcançar a superfície com sua mão, mas era inútil, ela não sabia nadar e não tinha mais forças para se debater. Antes que ela pudesse pensar em desistir, sentiu um toque gelado na lateral de seu corpo e pôde ver um homem peixe que a olhou novamente, e apenas uma coisa podia ser sentida naquele momento: A magia do amor. Foi a partir daquele olhar que eu fui destinado a acontecer...

A combinação de um homem peixe e uma mulher gato era claramente algo não natural, e seria considerada uma aberração, mas o amor de minha mãe e de meu pai era forte e iriam levar essa ideia até o fim. Eles já haviam planejado morar em algum lugar na floresta, eu frequentaria uma escola para nekomatas, aprenderia a nadar e todos nós seriamos felizes para sempre... como se a vida fosse fácil assim.

Na verdade, meu pai morreu nas mãos de alguns caçadores enquanto tentava resgatar alguns animais marinhos, então eles nunca foram morar na floresta, e eu nunca aprendi a nadar. E de tudo que eles poderiam ter acertado, eles acertaram na única coisa que tinha tudo para dar errado: eu fui para escola de nekomatas, e isso foi um pesadelo completo.

[...]

Na escola eles me apelidavam de muitos nomes, faziam piadas sobre mim e sempre me excluíam. Os jovens nekomatas conseguiam ser extremamente cruéis quando queriam, mas mesmo com 12 anos, eu nunca me deixei ser abatido, nunca chorei por isso e aprendi a viver isolado, como se os outros não existissem para mim, pelo menos até o dia em que eles mudaram o alvo da brincadeira para um garoto novo.

— Parem! — Gritei, me jogando na frente do garoto, quando vi que um dos Nekomatas estava ameaçando bater nele. Nesse momento, eu perdi meu autocontrole e minhas nadadeiras retrateis do braço apareceram e por serem afiadas como a de um peixe, eu acabei cortando o garoto.

— Monstro! — Muitos gritaram em coro, assustado com o ocorrido. Outros cochichavam sobre isso, e quando eu olhei para o garoto que estava com seu braço sangrando, ele encarou meu rosto com lágrimas no olhar.

— O que eu fiz para você? — Ele estava tentando estancar o sangue com a mão. Olhei em volta, para todos os nekomatas e percebi que ninguém iria fazer o mesmo que eu fiz pelo garoto, ninguém iria tentar me ajudar. Por um minuto, minha visão mudou, eu pude ver o mundo em câmera lenta, a face de medo estampado no rosto de todos, me fez ir embora dali, mesmo que no meio do intervalo.

Eu comecei a caminhar até o portão e eu repelia as pessoas conforme eu passava perto delas, abrindo um túnel de pessoas até o portão. Assim que eu estava fora das dependências do colégio eu comecei a trotar, e fui acelerando o ritmo conforme as lágrimas desciam pelo meu rosto, chegando em fim em minha casa em Nifir. Minha mãe estava na cozinha e não notou minha chegada, pois fui diretamente para o banheiro. Lá dentro, sem pensar muito, retirei uma tesoura da gaveta onde ficavam os suprimentos de emergência.

Minhas mãos tremiam, utilizei a tesoura para começar a cortar minhas nadadeiras com dificuldade. No primeiro corte, tive que parar, a dor era excruciante, como se eu arrancasse uma perna ou um braço, e eu poderia gritar, alertando minha mãe. Tirei minha camiseta e coloquei na boca, para morder e tentar não gritar. O último corte foi o mais doloroso e o único que realmente sangrou, o liquido vermelho que deslizava pelo meu braço, mostrava que eu tinha acerto alguma coisa, mas eu era muito pequeno para saber o que. Realizei o mesmo processo na outra nadadeira, e a última coisa que eu me lembro disso, foi de chamar por minha mãe quando eu estava perdendo a consciência pela falta de sangue.

Acordei assustado, na cama de uma curandeira, seu olhar para mim me mostrava que tudo ia ficar bem. A dor latejante ainda existia, mas era mais leve, os cortes malfeitos que eu realizei, estavam com melhor aparência e enfaixados, mas certamente deixaria uma cicatriz. As faixas que cobriam todo o meu braço me fizeram ter a ideia de deixar enfaixado para sempre, ninguém veria minhas escamas, e se eu usasse um casaco, ninguém veria as guelras, eu poderia ser um Neko normal. Minha mãe estava dormindo em uma cadeira ali mesmo, ela devia ter ficado a noite inteira acordada comigo, pois ela era muito melhor que eu, ela era a única pessoa que deveria ter sobrevivido do meu vilarejo...

[...]

Anos depois, eu ainda encarava um cartão que a curandeira havia me dado depois de ter me curado, as palavras dela me davam esperança de encontrar o meu lugar no mundo “Se um dia, você sentir que não é bem-vindo aqui, você pode ir para esse lugar, lá eles podem te ensinar a usar suas habilidades interiores, eles podem fazer você ser sem você é”. Eu não havia ido para escola depois do que eu fiz, ao invés disso, comecei a treinar na floresta, comecei a aprender a utilizar minha habilidade de ver as coisas em câmera lenta, então não sei como tudo começou.

Apenas vi minha mãe correndo por entre as árvores, como na noite em que conheceu meu pai, sua velocidade era incrível e mesmo as pressas seus movimentos eram elegantes. Ela pegou meu braço me chamando para ir com ela, e quase me arrastou até a borda do rio, o mesmo rio que ela havia conhecido meu pai, ela olhou nos meus olhos sem dizer nenhuma palavra e me abraçou forte, e aquele abraço dizia tudo, ela queria que eu fosse embora. Encarei a água, que se mexia ferozmente, e logo foi acompanhada em uma sinfonia com as folhas das árvores, o forte vente, os trovões e a chuva, que agora nos banhava.

— EU NÃO SEI NADAR! E NÃO POSSO TE ABANDONAR! — Gritei, tentando falar mais alto que os sons da natureza.

— VOCÊ NÃO PRECISA SABER NADAR! ESSA COISA NO SEU PESCOÇO VAI TE AJUDAR DEBAIXO DA ÁGUA! — Ela respondeu. — MAS VOCÊ PRECISA IR, NÃO PODEMOS MORRER OS DOIS AQUI! — Ela continuou.

Ela não iria desistir, eu sabia como ela era, finalmente um dos caçadores apareceu onde estávamos, ele empunhava uma besta, e não parecia ser ruim de mira. O tempo desacelerou, eu podia ver as gotas de água caírem mais lentamente, só que eu não era rápido o suficiente para salvar nós dois. Minha mãe em um impulso, me jogou para dentro da água, tomando a flecha em suas costas, estiquei minha mão, tentando alcança-la, mas era em vão, meus braços não eram tão longos. Cai na água como minha mãe havia caído quando conheceu meu pai, mas dessa vez eu não iria ser salvo por um homem-peixe, eu era o homem-peixe!

As minhas roupas estavam me puxando para baixo com o peso, então tive que me livrar delas. Tirei meu casaco e as faixas do braço primeiro, em seguida tirei meu tênis e meias, revelando minhas membranas. Comecei a me debater embaixo da água, tentando encontrar algum tipo de padrão que me ajudasse a nadar. Por sorte, minhas guelras permitiam que eu não me afogasse ali mesmo, pois demorei um pouco para encontrar esse padrão. Foi então que percebi que se eu tivesse minhas nadadeiras eu poderia nadar um pouco mais rápido.

Movimentando minhas pernas para cima e para baixo, padronizando o movimento dos meus braços e movimentando meu corpo, eu finalmente estava conseguindo me mover dentro da água. Consegui me mover por dentro dela por uma longa distância antes de sair para respirar novamente e me localizar. Agora eu só precisava ir em direção a um lugar: Aflesia, o continente vizinho, onde eu encontraria o meu lugar, e poderia até mesmo ter amigos.