[Treinamentos] Arthuria Pendragon

Nymeria parecia anormalmente estressada conforme caminhavam, lambendo os ventos com suas caudas em movimentos frenéticos que por pouco não acertavam os calcanhares da cavaleira dourada. A pequena raposinha detestava multidões; o barulho do trânsito de pessoas, o som das inúmeras forjas e os gritos de comerciantes eram insuportáveis aos seus ouvidos super sensíveis. Preocupada e almejando uma localidade mais arejada para o inicio dos seus treinamentos, Arthuria despachou-se para o extremo sul da cidade, onde uma pequena floresta nascia e espalhava o seu verde pela paisagem. A espada de madeira era um peso inútil até que de fato fosse posta a prova, mas esse teste deveria ser equilibrado com uma boa proficiência com o equipamento, de forma a atingir os melhores resultados possíveis através da prática.

Na companhia uma da outra, não tardaram a chegar à floresta. Nymeria, cansada com a longa caminhada, pôs-se a deitar por sobre um punhado de folhagem rasteira, fitando a dona que desembainhava o armamento de madeira e preparava-se para um treinamento básico. — Eu queria respostas. Mamãe não manda cartas, papai não envia mensageiros... Será que encontraram Violet? — Indagou-se. A irmã permanecia desaparecida já fazia algumas semanas, e cada minuto a mais atiçava a ansiedade da cavaleira. Ela caminhou até que estabelecesse uma linha reta com um tronco de árvore, de onde poderia acertar seus golpes sem que fosse atrapalhada pelos demais arvoredos no ambiente.

— Muito bem... — Ela suspirou profundamente com o fim da sentença. Precisava de calma, paciência e, acima de tudo, prudência. Um treinamento desconcentrado era o mesmo que não treinar, que tornar-se um cavaleiro desleixado. Arthuria não queria se tornar esse tipo de cavaleiro. Inibiu os pensamentos mais tortuosos; sua irmã, sua família, a saudade da terra natal. Não precisava de nada disso. Precisa de si mesma, de sua concentração. No primeiro golpe, aplicou potência e vontade, tremendo a estrutura por inteiro e fazendo com que folhas caíssem do céu, maculando o espaço com dezenas delas, pinceladas por um verde oliva por onde o orvalho outrora escorrera. O corpo igualmente sentiu a potência do movimento com uma vibração potente através dos musculos, o bastante para que fraquejasse e cambaleasse levemente para trás. Seu movimento seguinte, por outro lado, fora mais afiado e a postura, melhor corrigida do que na primeira vez. Não precisava ter um corpo fraco se não o quisesse; bastava ter fé de que seu corpo era uma muralha e dessa maneira nenhuma lança lhe perfuraria. Era invencível, absoluta, a guerreira suprema. Ou seria melhor dizer que seria?

+1 Ponto em Habilidade Física
+1 Força

Bag:

Arthuria; HP: 250; MP: 250; EG: 0/4
Nymeria; HP: 500; MP: 100; EG: 0/3

A pequena raposinha parecia animada com o treinamento de sua mestra. Nymeria ostentava o movimento clássico de suas caudas em lapadas dóceis contra os ventos, dissipando o nevoeiro natural e movimentando as pequenas gotículas de água no ar florestal. Arthuria, por outro lado, parecia bem menos a vontade, com o suor escorrendo pelo rosto e os braços trêmulos, exausta após contínuos golpes contra uma mesma estrutura. Permanecia convicta na ideia de que deveria ser mais forte para que pudesse embarcar em sua missão pessoal, mas a força tinha um custo. Seus dedos sangravam, a garganta estava mais seca que o habitual e a espada de madeira nunca mostrou-se tão pesada quanto agora.

Foi naquele momento que ela deu um rápido vislumbre sobre a graciosidade de Nymeria e compreendeu. Lembrou-se dos ensinamentos de seu mestre, Galahad, e da forma como um cavaleiro deveria conciliar graciosidade com poder bruto. Ambos eram pilares indispensáveis para a boa manutenção do status quo de um cavaleiro, de maneira que apenas a brutalidade irrefreável ou apenas a classe sem poder sozinhos não serviriam para conceder ao guerreiro o que ele realmente ansiava. Foi naquele momento que a menina dos cabelos dourados desenvolveu, mesmo que em esboços pouco detalhados e desconexos, uma maneira mais audaciosa e efetiva de treinar ambos esses pilares, não somente um deles.

Ela sorriu para Nymeria, segurou a arma com mais firmeza e deu um passo para trás. Respirou profundamente, reuniu no peito as energias que lhe restavam e correu até uma árvore, golpeando-a com poder o suficiente para que uma infinidade de folhas caíssem. — Respira, relaxa e siga a dança da floresta... — Disse a si mesma. Segurando a espada com ambas as mãos, ela inspirou o ar profundamente e soltou o impeto com suavidade. Em movimentos lentos, seus golpes acertavam precisamente as folhas no ar, rebentando-lhes a estrutura e prosseguindo imediatamente para o próximo alvo, ao passo que a potência dos golpes elevava as ondas de ar e mantinha as folhas no ar. Seu objetivo era treinar a força através de golpes potentes, mas mantendo a graciosidade dos movimentos impar aos golpes efetuados, como uma valsa tanto bela quanto mortal.

A raposinha rosada parecia especialmente intrigada com os movimentos, replicando-os com as caudas como se quisesse imitar Arthuria. Era muito mais lenta e frágil que a guerreira, mas não deixou de imita-la durante todo o treinamento. Por fim, cansada e percebendo que a noite aproximava-se, a jovem subiu em uma árvore moderadamente alta e decidiu que descansaria por ali.

+1 Ponto em Carisma
+1 Força
Eu não postei de onde vim agora pois estou no mesmo lugar.

Bag:

Arthuria; HP: 250; MP: 250; EG: 0/4
Nymeria; HP: 500; MP: 100; EG: 0/4

É importantíssimo na vida de um aventureiro o momento do despertar de seus poderes ocultos. Para um cavaleiro, sinônimo de honra e bravura, a própria natureza de suas habilidades inatas diziam algo importante a respeito da sua personalidade e conduta. Foi por isso que, no momento em que aquele oceano de malevolência verteu de seu coração, Arthuria berrou em desespero. Nymeria correu ao seu socorro, preocupada que estivesse ferida ou sob ataque, mas o que viu era... inexplicável.

Nymeria não conhecia aquele tipo de expressão marcada no rosto de sua senhora. Não doía de encarar, não transbordava sofrimento, mas também não esbanjava felicidade. Parecia muito vazio, escuro, mas ao mesmo tempo preenchido por algo sinistro. Sua pele fora demarcada por uma estigma negra, ondulada e que caía sobre o rosto em cascata, e seus olhos eram negruros como obsidiana. Os cavaleiros negros eram uma ordem de renegados que abdicou de seus títulos como protetores do reino e se afiliaram as hordas das trevas, Lembrou-se, mas rememorar esse fato somente entristeceu a pequena espadachim, que temeu ser confundida com alguém tão desonroso. Em passadas remansosas a menina atravessou a fileira de árvores onde despertara e sentou-se sobre a borda de um lago de água cristalina, fitando o próprio reflexo com remorso. A água tremeluzia com a sua presença, distorcendo o rosto de traços finos e transformando-a em uma entidade ainda mais vil do que temia se tornar.

— Esse poder é... ruim. —  Queixou-se, concatenada na imagem diabólica no fundo do lago. Essa não pode ser eu, definitivamente não! Negou-se a acreditar, convicta de que bastaria esconder aquele infeliz fato e viver o resto de sua vida como uma aventureira que jamais despertou sua linhagem. E permaneceria convicta naquele caminho se não fosse sua companheira vulpina. Nymeria esfregou o próprio rosto sobre o corpo da Pendragon dos fios dourados, girou sobre o próprio eixo e descansou sobre o corpo da mestra.

Ela não temia a escuridão no coração de Arthuria. Não havia motivos para temer, afinal.

E com aquilo, ela compreendeu. Seus poderes tinham uma origem malévola, sim, mas era a sua vontade que ditaria para qual fim aquele poder seria evocado. — Obrigado, Nyme. — Agradeceu, afagando o pequeno animalzinho. Posteriormente levantou-se, notando que a escuridão havia desaparecido, e partiu dali.

— Vestimenta.
— Vim daqui.
— Aprendendo a proficiência Elementos Especiais (2) — Escuridão

Bag:

Arthuria; HP: 500; MP: 475; EG: 0/7
Nymeria; HP: 500; MP: 100; EG: 0/3

— O poder dessa arma, e de todas as outras, vem daqui... — Arthuria tocou o próprio peito em um gesto simbólico, em referência ao próprio coração que pulsava dentro da caixa torácica. A espada de madeira descansava sobre o seu colo, enquanto a espadachim sentava-se sobre a margem do lago em que dias atrás despertara a sua linhagem. — mas deve ser equilibrado por isso aqui. — Falava agora sobre a mente, fielmente representada ao subir a mão até a altura da cabeça. — Pela disciplina, pelo autocontrole de quem a empunhar. Essa é a verdadeira força de um guerreiro. — Galahad era um homem inteligente, veterano de uma infinidade de guerras e membro da Guarda Real do império humano. Com o tempo, a barbaridade deu lugar ao discernimento, ao agir cauteloso característico dos mais sábios. Reconhecera o medo e o temperamento forte no mesmo instante em que conhecera Arthuria, e seus ensinamentos moldaram-se em torna-la melhor, ressaltando suas qualidades e dando-lhe as ferramentas para que podasse os defeitos. Todavia, uma ferramenta não empunhada não tem meios de realizar seu trabalho. A Pendragon precisava ter a experiência do medo verdadeiro, da desconstrução do seu ideal de normalidade, até mesmo despencar do precipício mais profundo. Era quando, segundo o próprio Galahad, a camponesa ascenderia como o mais brilhante dos pássaros.

Às margens do rio onde outrora as suas trevas nasceram, suas sinapses neurais construíam uma filmagem de memórias passadas que identificava cada uma dessas experiências. Diante do cavaleiro de foice nefasta e outra vez contra o grupo de ciclopes, Arthuria aprendeu que teoria nenhuma dentro da Academia de Batalha lhe prepararia para o acúmulo de sentimentos e sensações que invadia as pessoas concomitantemente à adrenalina nas veias. Como se não bastasse a inexperiência, atribuir ao seu medo uma nomenclatura diferente, como coragem ou bobagem, era apenas uma forma de desviar momentaneamente do terror, não de supera-lo. Superar significava compreender a sua forma, o seu contexto, o ponto inicial de onde nascera e o motivo para a sua existência. Era entender que o medo jamais desapareceria, mas que era capaz de conviver com ele e fazer o que era necessário. — Eu tenho medo. — Arthuria convenceu-se. Sua vida era um dom precioso, não queria perde-la de forma insignificante e estava tudo bem com aquilo. Naquele momento, seus dedos passearam por sobre a superfície da água, movendo pequenas ondinhas que se espalhavam a partir do ponto de impacto.

A desconstrução do seu ideal de normalidade era muito mais recente que a batalha contra o Walker. Enfrentara tal quebra de realidade quando sua linhagem despertou a algumas semanas e, por um momento, a aceitação própria e o respeito que tinha consigo mesma pareceu esvair-se em detrimento de uma suposta condição de existência vítima de uma doença. A escuridão, como Nymeria lhe mostrara por meio do afeto, não era uma força a ser temida e odiada, mas um ferramenta que poderia ser brandida da maneira como Arthuria achasse adequado. Poderia sim, dizimar civilizações inteiras, mas da mesma forma como poderia ser o escudo que protegeria um amigo, ou a espada brandida em nome da justiça. — Eu domino as trevas e farei bom uso do seu poder. — Declarou abertamente. Seus dedos, mais uma vez, dançaram por sobre a água e mais ondas espalharam-se.

Arthuria suspirou profundamente. Puxou o ar com força impetuosa e soltou tudo, carregando com aquilo a sua indecisão e a vergonha. Eu não preciso ter medo, não preciso ter raiva e jamais devo desviar do meu caminho. Aquela não era uma frase de Galahad, seu mestre, mas uma conclusão realizada por meio de suas próprias convicções e experiências passadas. — Nymeria, venha cá. — Ela convidou o pequeno vulpino em um tom de voz alto o suficiente para que escutasse. Do meio das árvores passadas céleres podiam ser ouvidas, quebrando galhos e amassando as folhas conforme se aproximava. De súbito, um salto através das árvores e a bola de pelos rosa e branca escorregou por entre o colo de Arthuria, esfregando o corpo no de sua mestra como se marcasse território. Nymeria conhecia a maioria das lutas pessoais de Arthuria: a busca pela irmã desaparecida, a dúvida sobre os seus poderes e o medo de admitir que tinha medo. Acreditava, embora não pudesse comunicar isso verbalmente, que sua mestra superaria todas essas adversidades e encontraria a felicidade, mas surpreendeu-se ao olhar nos olhos esverdeados da espadachim e encontrar aquele espírito de luta que costumava ostentar ao levantar-se todas as vezes que era derrubada na academia de batalha. — Eu estou pronta. Me tornarei mais forte, te protegerei e encontraremos Taiga, custe o que custar. — A heroína decidiu com um sorriso determinado. Levantou-se sobre os dois pés e deu de costas para o lago, que representava suas dúvidas passadas e o medo que carregava em seu coração. Nunca mais retornaria para aquele lugar.

— Vestimenta.
— Vim daqui.
— +2 Resistência Psicológica
— Essa foi uma narrativa de amadurecimento por parte da personagem, de forma a lidar melhor tanto com a sua recém adquirida linhagem das trevas quanto com o medo que por tanto tempo ela decidiu esconder.

Bag:

Arthuria; HP: 500; MP: 475; EG: 0/7
Nymeria; HP: 500; MP: 100; EG: 0/3