[Treinamentos] Diabolic

HP: 250/250 MP: 450/450 EG: 0/4

Os braços aos poucos se cansavam de tantas sacolas roubadas sendo abraçadas contra o corpo, mas eventualmente o mago aprendiz finalmente chegava ao seu objetivo.  Com as pernas bambas e os braços fraquejando, mas sempre com um sorriso no rosto.

— Com toda aquela confusão no portão da cidade, quanto mais longe melhor! Ai, ai... — dizia em voz alta, embora para si mesmo, enquanto falava sentava-se no chão gramado e encarava o luar acima de sua cabeça. — Vamos ver o que temos aqui! — Roçava uma mão contra a outra, excitado para saborear uma boa refeição após tanta tralha digerida. Seus olhos se esbugalharam quando a dádiva se mostrou, pães frescos e saborosos, assim como alguns doces de alta qualidade. — Esses comerciantes riquinhos realmente temem por suas vidas! Olha isso! Deixaram um monte de coisa gostosa para trás! — E continuava a exclamar em voz alta, bastava uma pessoa se aproximar para que o rumor de um garoto esquizofrênico começasse a correr pelas vielas da cidade.

Tracer sabia que o que tinha feito era de certa forma errado, mas aquilo não o importava nem um pouco. Aqueles alimentos eram produtos de pessoas ricas, que detinham poder sobre as pessoas daquela cidade e conseguiam facilmente compensar todo o lucro perdido com o ataque à cidade. — Verdade. O ataque! — Lembrou-se do que acontecia quando deu as costas, vasculhando em sua memória alguma informação que pudesse ter sobre conflitos em andamento contra Martis, porém a cidade era tão pacífica que nada lhe vinha à mente.

— O QUE É ESSA MÚSICA!? — gritou com voz mais grave, levando ambas as mãos contra a cabeça e piscando ambos os olhos com força irregular. Momentos como aquele eram extremamente comuns, a troca de personalidade entre Mad e Tracer levava à sustos e visualizações de traumas passados, toda vez que algum dos dois assumia o controle do corpo, era como se toda sua vida passasse à frente de seus olhos acompanhada por uma melodia em piano exageradamente melodramática. O garoto suspirava enquanto aos poucos voltava ao normal, ainda muito ofegante, pegando o pão do chão úmido e levando-o sem hesitar à sua boca, mordendo-o com prazer imensurável. — Boa Tracer, finalmente conseguiu alguma coisa útil pra gente comer! — disse em tom de deboche, com um sorriso entre os lábios sujos com o miolo e farejo do pão que acabara de saborear.

Quando finalmente havia acabado de comer todas suas guloseimas, Mad se deitou no chão e observou o céu estrelado, rapidamente pegando no sono quando fechara ambos os seus olhos. Demorou muito tempo até que voltasse a despertar, abrindo seus olhos suavemente após sentir o contato de uma folha contra a sua testa. Levantou-se lentamente e manteve-se sentado, agarrando a folha com seu punho fechado e liberando-a em pequenos fragmentos semelhantes a pó. — Chato. — sussurrou. O que se passava pela mente de Mad era praticamente impossível de se interpretar. O mago começou a forçar seu próprio poder mágico para fora de seu corpo, criando uma camada de mana ao redor de seu próprio corpo. Facilmente adentrara um estado de concentração no qual conseguia expelir sua mana magenta sem utilizar uma magia com determinado objetivo, estava simplesmente fazendo uma apresentação para si mesmo.

O seu poder fluía por suas veias, toda aquela força mágica que subitamente despertara em seu ser, era como se sua própria existência protestasse contra sua fraqueza, um real presente do mais doloroso desconhecido. Todo dia descobria um pouco mais de si mesmo, como se nem mesmo houvesse encontrado seu limite. Mad sorria com a sensação de estar sob controle, dessa vez um sorriso distorcido e ganancioso, o garoto estava pronto para tomar o mundo inteiro para si. Ele levantou-se do chão em pressa incontrolável, o gramado que outrora residia próximo de seu corpo inerte agora havia sido queimado pela potência de sua manifestação de mana. Os pés começavam um movimento ágil e repentino, estava desafiando não só à si mesmo, mas tudo. Correu como nunca havia feito anteriormente, pois em sua mente apenas lembranças de suas fugas eram mostradas, lembrava-se de cada momento em que teve que ser tão ágil como um felino, tão hábil quanto um leão e feroz como um dragão. A vida daqueles dois era composta apenas por aquilo. Desafios.

— Esse mundo é foda, Tracer. Eles dizem ser um ambiente para todas, mas na verdade nós somos vistos como uma aberração. Eu realmente queria que você me entendesse, nós poderíamos nos tornar tão mais fortes se estivéssemos na mesma página. É uma pena que você tenha que ser assim, tão ingênuo. Mas um dia eu sei que você vai entender, nós não fomos feitos para habitar essas terras. Nós nascemos para governa-las. — Enquanto finalizava sua frase interrompia sua corrida, era sabido que sua contraparte não ouvia suas palavras, mas elas serviam como motivação até para si mesmo.

Considerações: