[Ficha de Personagem] Dabi Azaroth

Dabi foi concedido perante uma linhagem muito especial, dentre os diversos elementos que se podem controlar o garoto conseguiu o raro DNA ativo das chamas negras, o Nia. Esta habilidade raramente é despertada, e é muito apreçada pelo clero da chama negra, um culto religioso com objetivo de manter o poder longe das mãos de inimigos. Os pais de Dabi contudo, há muito já haviam se desvinculado do culto, tanto que apenas sua mãe era membro de tal e tinha ciência das habilidades que o garoto herdou, e o perigo que a mesma carregava, como um chafariz para aquilo que tanto lutou para escapar, tentou ao máximo ocultar os poderes do garoto.

Anos se passaram, contudo no seu quinto aniversário o inevitável veio a tona, suas habilidades fugiram do controle e com elas, as chamas negras incendiaram sua casa por completo, sendo impossível a apagar por meios convencionais, toda a casa queimou até o chão, virando cinzas e levando muitos dos convidados com ela, o cheiro de carne queimada impregnou as narinas do pequeno garoto, seus ouvidos cheios pelos gritos daqueles que morriam queimados vivos, a dor de sua própria pele sendo derretida pelas chamas fora de controle, sua mãe havia falecido naquele acontecimento, e mesmo que seu pai tenha sobrevivido, parte dele morreu naquilo. O próprio garoto não saiu ileso, por meio das chamas, explosões que se decorreram da mesma e destroços, seu corpo ficou severamente ferido, com marcas de queimadura próximas dos olhos, no pescoço, braços e pernas, os curandeiros foram capazes de salvar sua vida, mas o custo imenso das poções utilizadas para o recuperar acabaram falindo sua família, ou o que restava dela.

Seu pai começou a olhar com desdem, como se ele fosse o culpado pelo que ocorreu com sua mãe, mesmo sendo parcialmente verdade, o garoto havia perdido-a também, e ao invés de ter alguém para depender neste tempo de luto, estava sozinho. Ele mesmo havia perdido algo, sua aparência agora era um tanto horrenda, e não bastasse isso, os boatos se espalharam, seus amigos o isolaram, pessoas na rua o olhavam torto e evitavam manter contato. Foi como uma benção quando o clero surgiu em sua porta, clamando por sua presença para a igreja, dizendo que havia um lugar seguro donde ele poderia treinar suas habilidades, crescer e ser visto com honra e não desprezo, seu pai lembrou da menção de sua esposa, um pedido na calada da noite que nunca lhe fez sentido, contudo agora se mostrava claro como a água cristalina de um lago. "Se algum dia algo acontecer comigo, eu preciso que você fique de olho no Dabi — Não, eu sei, é claro que você irá cuidar dele, mas eu digo sobre religião. Não o deixe ser levado, nada de bom acontecerá. — Eu... não posso te explicar direito amor, mas confie em mim, se um dia acontecer, você entenderá." Uma luz se ascendeu em seu peito, como uma última interação com sua falecida mulher, intervindo com os cultistas e negando que seu filho fosse embora, o garoto abriu os olhos com um brilho que não se via há muito tempo, esquecendo como era ter qualquer tipo de afeto, os mesmos olhos que congelaram com a cena a sua frente, seu pai queimando vivo pelo toque do homem que trajava uma longa batina negra, o cheiro de carne queimada novamente adentrando suas narinas, os gritos de seu pai desesperado, seu corpo congelou com aquilo novamente ocorrendo, estendeu a mão até ele enquanto o via cair no chão e não gritar mais, a dor havia acabado?  Sua consciência começou a ficar pesada, pernas fracas e visão nebulosa, seu corpo entrou em colapso e simplesmente cedeu, caindo ao chão.

Ao acordar, estava num ambiente completamente diferente, o clero da chama negra era um culto que venerava os membros da linhagem que conseguiam despertar o poder, e mesmo que o garoto estivesse um tanto velho para os parâmetros deles, serviria para ser um fiel, ou foi o que pensaram. Como uma máquina, desligado de sentimentos, desejos ou vontades, o garoto seguia as instruções dadas, limpando o que era mandado, lendo o que era lhe dado e realizando os treinos indicados, não tardou para aprender a dominar seu elemento, durante seu crescimento era necessário realizar ajustes na pele que não crescia junto com o corpo por causa das queimaduras, e diversas suturas foram feitas esticando a pele danificada, deixando sua aparência ainda mais macabra. Durante esses anos crescendo, a única pessoa que tentava interagir com o garoto como um ser humano era Anaise, uma garota que não havia herdado a linhagem, porém vivia no templo por ser do grupo, mesmo com muitas tentativas, Azaroth nunca esboçou nenhum apreço por ela, mas no fundo a via como uma amiga, sendo a única coisa que o mantinha longe da sanidade, porém pelo medo de perder mais algo próximo de si, não interagia com a mesma, com medo que suas chamas queimassem mais alguém. Aos quinze anos, lhe foi dado a tarefa de matar um dos indignos, membros do clero que não haviam desenvolvido suas habilidades até os vinte anos, idade final para despertar. Anaise estava entre eles, e pela primeira vez em dez anos, Dabi esboçou algo, seus olhos se abriram enquanto um leve sorriso se desenhou em seu rosto, acenou com a cabeça e foi até o quarto da garota, colocando-a contra a parede a força e empurrando-a para dentro do armário, confusa ela perguntava o que ele estava fazendo, pedindo para larga-la, pois seu pulso doía; Eles não vão te matar, eu vou.

Os olhos dela esboçaram um imenso medo, enquanto era trancada lá, a tarefa havia sido dada para os seis discípulos. sendo Dabi o mais velho, entretanto havia apenas cinco indignos disponíveis para sacrifício, sendo assim um deles falharia. Mas havia outra resposta, se Dabi matasse três dos contestantes, Anaise não precisaria morrer, manteve-se no quarto dela, sentado a frente do armário com um olhar frio, carregado apenas pela vontade de matar quem adentrasse, o primeiro foi um alvo fácil, derrubando a porta com um chute sequer teve reação ai ser atingido por uma rajada de chamas negras, a garota gritou aterrorizada, enquanto por entre os dentes o garoto contava, "Menos um."

O problema foi que, após o segundo aparecer com sinais óbvios de luta, uma disputa foi demandada, e mesmo que Dabi tenha prevalecido do combate, os membros do clero perceberam o que estava ocorrendo e interviram, incrédulos que o garoto estava assassinando os poucos da linhagem por uma indigna, conjuraram uma massa poderosa de fogo em sua direção, almejando expurgar ambos da existência num só golpe, Dabi cruzou os braços e protegeu-se com toda força, porém as chamas ao seu redor começaram a consumir novamente tudo, e mesmo a pequena faísca que passou para o armário foi o suficiente para começar o fogo, os gritos de desespero dela o fizeram instintivamente se virar para quebrar a porta, mas outra rajada de fogo era arremessada, e o garoto era obrigado a ouvir ela gritar enquanto defendia incansavelmente os ataques, seus braços exaustos e mana quase esgotada eram o que menos doía, os gritos de Anaise que haviam cessado enquanto todo o cômodo tava espaço ao céu azulado era o que mais lhe feria, novamente tudo havia sido queimado a cinzas. Deixando os braços cair ao lado do corpo, olhou sem qualquer remorso para os magos do alto clero quanto ergueu num súbito movimento um pilar de chamas, imenso ao ponto de devorar a igreja por completo num instante, o fogo mataria todos sem qualquer hesitação, como fez até hoje com tudo próximo dele, sem qualquer apreço por sua própria vida, havia decidido acabar com todos eles e a maldição que carregava em seu corpo.

Acordou novamente vivo, algum milagre talvez tenha o poupado, após conjurar a labareda imensa de fogo e desmaiar pela exaustão de mana, a igreja queimou e com ela todos os praticantes lá, sobretudo seu corpo estava intacto, como se o fogo finalmente tivesse aceito ele, ou ele finalmente houvesse dominado o fogo por completo, lentamente se ergueu, vendo a imensidão a sua frente, se não conseguia paz, aceitou o caos. Abraçou a destruição, já que ela o vestia como uma peça de roupa, e seguiu com uma nova ideologia, destruiria tudo em seu caminho para proteger o que desejasse, não mais temendo que as chamas queimassem o que desejava tocar, e sim garantido que queimassem o que se opusesse ao garoto.

Seus próximos cinco anos foram uma mistura de mendigagem, roubos e gangues, brigas e saques, vivendo fora dos limites da lei, cresceu sobrevivendo por si, tendo cada vez mais uma visão deturpada do mundo, um garoto sem família e cheio de cicatrizes não ganhava muito dinheiro pedindo, pelo contrário, era chutado e cuspido, sem habilidades além das chamas que controlava, passou de mendigar para roubar. Roubos eram fáceis, porém não tão rentáveis e arriscados, sozinho contra o mundo o garoto eventualmente seria pego, e foi ai que se juntou a uma gangue, e depois passou para outra mais forte, destruindo a antecessora e assim por diante, até que deu a sorte grande de saquear uma caravana com dinheiro o suficiente para comprar um quarto, mudando um tanto a sua vida e dinâmica de sobrevivência. Após isso começou a trabalhar apenas em coisas pequenas, mantendo o dinheiro de cada dia no bolso para comer, almejando sobreviver até finalmente ter algo para se apegar e proteger. Até lá, só buscava mais força, mais poder, para ter a certeza absoluta, que nada se colocaria em seu caminho quando encontrasse algo que desejava manter vivo.