[Ficha de Personagem] Oz Barielle

Tenho que admitir que não me recordo dos ocorridos na minha tenra idade, minha memória não é tão boa assim. O que posso dizer é que vivi durante muito tempo no que as pessoas chamam de “cativeiro". Quem me mantinha lá? Não sei dizer. Eram pessoas que ficavam quase sempre com o rosto coberto e nunca conversavam comigo. Não cheguei a ser torturado, as pessoas de lá pareciam se preocupar mesmo que minimamente com minha integridade, e nunca me permitiam iniciar contato com o mundo externo. Na verdade, preciso ser franco: já fui maltratado por eles uma vez. Me fizeram participar de uma conjuração que durou sete dias. Para qual finalidade? Não faço ideia. O que posso afirmar com toda a certeza é que no sétimo dia selaram algo dentro de mim. Era uma coisa negativa e consciente, que rosnava de rancor por tudo e todos. No dia seguinte, não conseguia sequer organizar meus pensamentos, pois aquela consciência maligna não me deixava em paz. Implorei para que tirassem-na de dentro de mim, mas a única resposta que recebi fora: “nós somos os emissários do caos iminente, você um receptáculo". Nunca entendi o real sentido daquela frase, sinceramente nunca tive interesse pelo mal. Desde esses episódios da minha infância convivo com esse ser maligno dentro de mim, porém agora, aos meus vinte e dois anos, consigo negar completamente sua existência. Ressalto isso pois nem sempre tive total controle. Por duas vezes esse ser chegou a me controlar e o que ocorreu depois deve ser mantido em sigilo.

Você deve estar se perguntando como consegui sair daquele lugar tenebroso onde vivia. Em poucas palavras, fui resgatado. Mas não da forma como imagina. Minha "casa" foi atacada por pessoas que desconheço. Uma intensa “guerra mágica” se deflagrou, o local foi completamente destruído e não consegui pensar em mais nada além de fugir. E foi isso mesmo que fiz. Corri para longe, o mais distante que pude, até ninguém mais conseguir me achar. A partir daí, uma nova fase da minha vida se inicia. Vivi nas ruas como um mendigo, passei fome e frio, nunca roubei e contava com a ajuda do meu próprio esforço e de pessoas sorridentes para conseguir sobreviver. Foi nesse período que aprendi a dar valor à vida e às pessoas. Fui bastante humilhado por seres sem coração nas ruas, isso é fato, mas também reconheço que houve quem me dera a mão. Espero um dia reencontrar essas pessoas que não me menosprezaram e de alguma forma retribuir minha gratidão. Gestos simples como um sorriso ou dar um pedaço de pão são quase nada, mas para mim eram tudo.

Atualmente não passo mais por essas dificuldades. Aos quinze anos de idade, fui acolhido por um nobre solitário e de bom coração: Lorde Barielle. Ele me deu tudo que precisava e mais um pouco. Era uma autoridade nas artes arcanas e me ensinou magia. Para mim Lorde Barielle era não apenas um tutor, mas também um exemplo do que quero me tornar. Ele era muito sábio, gentil e parecia saber tudo sobre o mundo e sobre mim, embora sempre mudasse de assunto quando perguntado sobre o meu passado. Permaneci nesse estilo de vida durante sete anos, até que Lorde Barielle simplesmente sumiu! Partiu em uma viagem e depois de meses nunca mais retornou. Pessoas próximas cogitavam sua morte, mas eu o conheço bem. Sei que não morreria assim e sei também que no fundo quer que eu vá atrás dele.

A nobreza local já me chamava de Lorde Barielle II. Eu poderia simplesmente alegar a morte do primeiro, herdar sua herança e passar o resto da vida com as regalias luxuosas de um nobre. Mas claro que eu nunca faria isso. Sou um homem de valores, que aprendi tanto vivendo nas ruas quanto com Lorde Barielle. Além disso, não suportaria viver na ignorância. Há muitas coisas nesse mundo a serem descobertas. Preciso compreender o meu passado e quem sou, reencontrar Lorde Barielle e “sair da caixinha”, explorando o mundo afora. Sei que não existe lugar melhor para começar essa jornada que Martis e é para lá que irei.