[Ficha de Personagem] Alune Yaoguai

Ao norte de Aflasia, existia uma vila formada em sua maioria por pescadores. Demasiada longe das outras cidades e até mesmo vilarejos, ela não foi afetada pela guerra entre os anões e as criaturas bestiais. Seus moradores viviam uma vida pacata e de rotina simples, até que um dia isso mudou.

Uma tempestade inesperada atingiu a costa do continente. Ela durou dias e impedia que os pescadores pudessem sair para o alto-mar, pois seria morte certa. Com o fim da tempestade os pescadores da vila saíram em direção a praia, contudo antes que entrassem em seus barcos um objeto lhes chamou atenção.

Na beira da praia, provavelmente trazido pela tempestade, havia um enorme baú de madeira escura. Era bastante pesado e apesar de não possuir uma fechadura, estava completamente lacrado. A sua madeira era toda entalhada com escrituras em uma língua desconhecida por eles. Animados com a possibilidade de haver ouro no interior do baú, os pescadores esqueceram do seu trabalho e levaram o objeto até a vila. Quando lá chegaram os moradores iniciaram uma calorosa discussão sobre o que fariam com o baú. Alguns tinham medo de que o dono aparecesse eventualmente e eles tivessem problemas por causa disso. Outros queriam abrir o baú para ver o conteúdo e só decidir o que fazer depois disso. Os mais idosos diziam que qualquer coisa trazida pela tempestade era um mal presságio e que eles deviam jogá-lo no mar o mais rápido possível. No entanto, a maioria queria abrir o baú e encontrar uma forma de lucrar com seu conteúdo sendo ouro ou não.  

No fim eles escolheram primeiro ver o conteúdo do baú e então tomariam uma decisão. Como era uma vila de pescadores, a maioria deles estavam familiarizados com o trabalho com madeira. Mesmo assim, tiveram bastante trabalho em arranca uma parte da tampa do objeto, devido a resistência da madeira nunca vista antes por nenhum deles. Quando finalmente conseguiram um breve vislumbre do conteúdo, os mais gananciosos ficaram demasiado animados. Pois lá havia um enorme vazo de puro ouro.

Bastante animados eles se empenharam e quebrar o restante da tampa e tirarem o vazo de dentro. Estavam curiosos se dentro do vazo também haveria outros objetos de ouro ou talvez joias de valor alto. Quando finalmente conseguiram destruir a tampa do recipiente, notaram que o objeto no interior não se tratava de um vazo como haviam pensado primeiramente. Era na verdade uma cabaça de cinzas feita de ouro maciço. Na parte inferior da cabaça estavam entalhadas imagens das faces de cinco Yaoguai em alto relevo.

Os anciões da vila ficaram eufóricos. Eles não tinham ciência do que era aquele objeto ou para o que ele servia, mas conseguiam reconhecer faces de espíritos demoníacos. Alguns até diziam que podiam sentir que o objeto era amaldiçoado só de olhar para ele. As suplicas dos idosos para jogarem tanto a cabeça quanto o baú no mar foram ignoradas pelos outros. Eles ainda possuíam um grande interesse em saber o que havia no interior da cabaça e sem pensar duas vezes a abriram.

De imediato ocorreu uma explosão de energia e todos que estavam próximos do objeto morreram de imediato. Acima da cabaça haviam cinco esferas de luz coloridas; uma vermelha, uma branca, uma marrom, uma amarela e uma azul. Os pescadores não sabiam, contudo, cada uma daquelas esferas representava um espírito Elemental que foi corrompido e transformou-se em um Yaoguai.
Os cinco espíritos estavam débeis, pois haviam sido aprisionados por centenas de anos e usaram todo o seu poder para continuarem existindo. Ainda assim, eles tinham poder suficiente para matar todos os moradores da vila caso necessário. Mas no momento seu principal objetivo era encontrar hospedeiros, corpos que pudessem possuir. Ainda assim não poderiam possuir o corpo de qualquer humano, precisava ser um corpo feminino assim como seus corpos originais e com seu Ying intacto.

Apesar dos globos de luz coloridos serem belos, eles transmitiam uma sensação de maldade e perigo para os moradores, principalmente depois de verem os corpos de cinco pessoas explodirem. Eles estavam paralisados pelo menos, alguns até mesmo se concentravam em respirar o mínimo possível. Então veio a voz.

A voz era ríspida, fraca e soava como se cinco pessoas falassem ao mesmo tempo. “Tragam cinco adultas virgens”, proferiu a voz que parecia vim do nada e de todo lugar ao mesmo tempo. Os moradores não entendiam o pedido e continuaram parados sem fazer absolutamente nada. Eles não sabiam que os espíritos precisavam de uma mulher virgem para hospedar seus corpos e ao mesmo tempo maior de dezesseis anos para que pudessem se alimentar de sua mana. Então sem nenhum aviso prévio, várias bolas de fogo saíram do globo de luz vermelho e atingiram os três moradores mais próximos fazendo com que eles queimassem até a morte. A cena chocou a todos, então outros quatro moradores tentaram fugir, contudo foram atingidos por raios provenientes do globo amarelo e morreram instantaneamente.

Então a voz, agora mais fraca do que antes, repetiu seu pedido. O problema era que a vila só possuía três mulheres virgens e duas delas morreram no momento que a cabaça foi aberta. Ela também não possuía crianças meninas e todas as outras mulheres adultas já não eram virgens. O homem mais velho da vila tomou coragem e apresentou o problema para os espíritos e apontou para a única jovem que estava em um canto tremendo de medo.

Os espíritos não tinham outra opção. Eles estavam sem nenhum poder, principalmente depois de matar os moradores. A única opção que eles teriam eram todos possuir o corpo da jovem e se alimentar de sua mana até que pudessem encontrar novos hospedeiros. Quando isso acontecesse, sua alma e mente seriam destruídos e seu corpo teria um novo dono. Sem outra opção os cinco espíritos avançaram em direção a garota e possuíram seu corpo. No mesmo momento seus olhos brilharam com um forte tom de azul e ela gritou de dor por vários minutos ao mesmo tempo que se debatia no chão. Os moradores se afastaram e alguns até fugiram, com medo do que poderia ocorrer em seguida.

Tarde demais os espíritos perceberam que algo não estava certo... Havia algo que o restante dos moradores da vila ou os espíritos não sabiam. A realidade era que na verdade ela não era mais virgem. Ela teria dito isso, infelizmente estava com muito medo e não teve tempo. O seu namorado teria dito isso, todavia ele foi um dos que tentou fugir e morreu.

Normalmente se os espíritos tentassem possuir o corpo de uma mulher que não tivesse seu Yin intacto, a possessão iria falhar e a mulher morreria. Mas o que nenhum deles teria imaginado era que ela também estava esperando um filho, uma garota para ser mais exato. E quando os espíritos tentaram possuir o corpo da mãe que não era compatível, acabaram possuindo o corpo da criança que ainda estava sendo gerada.

Ao perceber o erro que haviam cometido, eles tentaram sair do corpo do bebê. Mas por algum motivo eles estavam presos ali dentro. O corpo ainda não estava completamente formado, dessa forma não precisavam destruir sua mente ou alma. Ele não seria apenas um hospedeiro temporário e sim definitivo, como uma prisão. Eles poderiam usar a energia gerada pelo corpo para ficarem mais fortes, no entanto se o corpo morresse seriam destruídos juntos. Outro problema é que eles teriam que esperar o corpo completar dezoito anos de idade antes de poder usar seus poderes elementais com eficiência, pois esse seria o tempo que levariam para se recuperarem completamente.

Depois de alguns minutos de dor a jovem grávida desmaiou. Ela ainda estava viva obviamente, contudo a dor que sentiu foi tanta que sua mente não aguentou. Os moradores que não haviam fugidos a deixaram ali e a observaram de longe. No momento que a garota acordou, ainda com bastante dor e desorientada, ela foi expulsa pelos moradores. Eles não sabiam o que tinha acontecido, mas sabiam que existiam demônios em seu corpo e que eles poderiam se manifestar a qualquer momento.

Já ela não sentia nada de diferente. Ela sabia que estava grávida, não tinha como não saber. Mas desconhecia totalmente o que havia acontecido dentro do seu corpo e com sua filha. Ela não era uma mulher burra, sabia que não poderia fazer nada quanto a sua expulsão, então aproveitou que todos estavam com medo dela e levou consigo todo o ouro que havia na pequena vila e toda comida que conseguia carregar. Então partiu em direção ao vilarejo mais próximo.

Depois de alguns dias de viagem encontrou alguns mercadores que estavam indo para Martis. Ao chegar na cidade alugou uma casa onde passou os meses restante de sua gestação. E por fim morreu durante o parto. O bebê, que era na verdade um espírito demoníaco, foi adotado pelos mercadores.