[Treino] Magicamente Instigada

— Kero!!! — Exclamo, vislumbrando a paisagem. O céu perfeitamente azul e nuvens tão brancas e delicadas que mais parecem algodão. Um vasto gramado límpido e verdejante. Peças, esculturas, escombros de pedras e afins compõem a cena, mas sem retirar a naturalidade e obstruir a vista. Tenho a sensação de amplitude e, principalmente, aventura.

Meu olhar vibra, irradiando um brilho esmeralda intenso, tão vívido que parece saltar dos meus olhos. Kero também está animado, o pequeno animal pula do meu colo e corre sobre o vasto gramado; deita, rola e brinca na grama. Levanto voo, erguendo-me à metros do chão, abrindo os braços para aproveitar o ar fresco das províncias que correm soltos, livres de qualquer empecilho; o soprar do vento bagunça meus cabelos e quase me derruba do voo.

Desde que Kero e eu chegamos na cidade, faz um bom tempo que não entramos em contato com uma paisagem tão bela e natural. Pergunto-me como ainda não tinha vindo à este campo antes, mas não me culpo, pois reconheço que sou nova em Martis. Todavia, este é lugar designado para treinamentos. Não é atoa que, daqui de cima, posso ver algumas pessoas, seres de todas as espécies, orquestrando suas habilidades.

— Kero, estou ansiosa para começar a praticar minha magia! — Falo com um grande sorriso e voltando ao chão. Antes de começar, escolho uma pedra como alvo para efetivamente treinar meu potencial magico, assim como reparo que os demais estão fazendo. O mineral é grande, maior bem maior do que eu e Kero juntos — o que não é grande coisa, na verdade —, é maior do que um humano ou do que um uso! Bom, estou focada em aumentar o poder da minha magia, então, presumo que eu tenha que colocar alguns desafios, para que mediante deles eu consiga exceder meu atual limite.

— Ah, você acha que eu consigo causar danos, ou até mesmo quebrar, essa pedra? — Pergunto inocentemente para Kero, apontando o pedregulho. O animalzinho balança sua cabeça como um sinal de sim, vejo que o pequenino quer minha incentivar. — É... por isso que te amo, Kero. Porque eu mesma não acredito. — Dou pequenas risadas de nervoso, e vejo a cara de descontentamento disparada pelo animal.

Coloco-me em frente, cerca de dez metros, ao obstáculo que escolhi. Respiro fundo, deixando o ar refrescante invadir os meus pulmões por ininterruptos três segundos. Uno minhas mãos em formato de concha, vertendo minha magia ao centro das palmas. O vento que percorre o espaço logo se molda em pequenas porções tendo como epicentro o núcleo de mana criado. Gradativamente um vórtice de ar toma forma sobre ambas as minhas mãos, e a partir desse ponto irradio o elemento num ímpeto voraz contra a pedra. Após o choque uma cortina de poeira foi erguida.

— Uau... —  Nunca havia me concentrado, tão pouco emanado tanta energia num só ponto. Após a poeira ser dissipada, posso ver que a pedra mantem-se de pé, mas com uma marca bastante nítida em seu centro, semelhante a uma cratera. — Mal posso acreditar! — Pulo de alegria e vejo Kero fazer o mesmo.

Logo após minha comemoração, escuto um latido, e voltando meu olhar para o som, vejo Kero inclinando sua cabeça — como quem diz vem cá — e dispara uma corrida. Eu, sem pensar duas vezes, começo a correr em sua direção, e até mesmo ergo-me num voo rasante para tentar alcança-lo. Porém, a pequena criatura é bastante rápida, conseguindo criar uma boa distância entre nós em pouco tempo.

À vista disso consigo perceber o quão de vagar eu sou em relação ao meu companheiro. Sinto-me uma verdadeira tartaruga tentando alcançar uma lebre. Talvez ele esteja fazendo isso por se sentir um pouco preso estando em meu colo, ou tendo que acompanhar uma fada tão lerda quanto eu. Admiro-o pela sua rapidez, sua velocidade é invejável.

Já começo a fadigar, tendo um cansaço bastante nítido pelo ofegar que sua frequência a cada metro percorrido. Mas Kero continua na dianteira, firme e sem parecer preocupar-se com cansaço. Eu, de verdade, desejo alcançá-lo, e desejo também que ele sinta-se confortável enquanto estiver em meus braços.

Respiro fundo, concentro-me. Pois essa já é a hora que devo ultrapassar os meus limite! Exigindo o máximo de minhas asinhas, foco no meu objetivo. Regulo minha respiração, para que ofegar não seja mais um grande problema. E assim, disparo, quase no mesmo ímpeto da rajada de vento lançada. E com essa vontade toda que se ascende em meu peito, voo velozmente — mais do que o que tenho costume. Aos poucos, a distância entre Kero e eu começa a diminuir.

Kero ainda está à frente, e mesmo que eu tente, todo o meu esforço não é o suficiente para pega-lo na corrida. Então, ele para, repentinamente. Quase o atrope-lo, capotando no chão que felizmente amorteceu minha queda através do fofo gramado. O animalzinho vem todo serelepe e pula em mim, lambendo minha face e latindo de animação. — AAA! Você é demais, Kero! — Exclamo, abraçando-o e sentindo-me a fada mais feliz do mundo.

Considerações: