[Treino] Alvorada

Meus olhos abriram instintivamente. Ainda estava escuro, de forma que pela janela da estalagem era possível ver a negritude do céu, pontualmente iluminado pelos sinais das estrelas. Dei um leve suspiro, calmamente levantando-me da cama. Olhei para o lado para ver as horas pelo relógio em cima do criado mudo: cinco da manhã. Vou ao banheiro lavar meu rosto, a água gélida escorrendo pela minha face fazia-me verdadeiramente despertar da serenidade do sono. E pelo reflexo do espelho consigo admirar meus escuros fios de cabelo, além de olhos carmesins.

Faz um dia que estou em Aflesia, precisamente em Martis. Vou até minhas coisas procurar uma roupa para arrumar-me. Escolho um conjunto apropriado para atividades físicas: um blusinha cropped preta, um mini short também preto, sapato fechado e meia longa, com os cabelos presos num penteado de rabo de cavalo. Também uma garrafa com água. E claro, sem esquecer do manto vermelho que uso para cubrir-me, colocando-o sobre o corpo e vestindo seu capuz, nunca saio sem ele. Agora estaria pronta para começar. Rapidamente saio do ambiente, e já procuro alguma fruta que a estalagem pudesse oferecer, e também aproveito para enchar a minha garrafa d’água, e sem perder o ritmo vou depressa para a saída.

— Vamos começar a treinar! — Digo a mim mesma como forma de incentivo. Pelo desejo de me fortalecer entendo que também devo treinar meu físico, não apenas meu poder mágico.

Conforme vou distanciando-me das zonas mais urbanas, o tempo vai abrindo e os primeiros raios de sol vão banhando a terra. O céu perfeitamente azul e nuvens tão brancas e delicadas que mais parecem algodão. Um vasto gramado límpido e verdejante. Peças, esculturas, escombros de pedras e afins compõem a cena, mas sem retirar a naturalidade e obstruir a vista. Tenho a sensação de amplitude e, principalmente, aventura. Meu olhar irradia um brilho intenso e vívido de vermelho, quase extrapolando o limite dos meus olhos, podo-se à mostra conforme minha mana vibra com minha alegria ao ver o campo.

Neste campo de treinamento que encontro-me, vejo outros seres, diversas raças — e seguramente não há nenhum daquela odiosa raça, ainda bem — aprimorando suas habilidades também no campo. Agora seria a minha vez. Para começar, retiro meu manto, permitindo minha pele entrar em contato direto com a luz, revelando seu potencial dourado; deixo o item de minha vestimenta sobre o terreno. Em linha reta vou a minha velocidade habitual de corrida até distanciar-me dez metros do ponto inicial. Giro meu eixo à direita e continuo a corrida na mesma velocidade, e de maneira perene continuaria com essa rotação. De tal forma, aos poucos iria contornando o mesmo ponto de referência.

As ondulações da topografia, juntamento aos troncos, escombros e pedras, são um ótimo obstáculo a ser vencido, do qual eu fazia questão de acelerar os passos ficando na minha velocidade máxima a cada obstáculo que eu ultrapassasse. Dessa forma iria me mantendo oscilando minha velocidade nos descansos entre as dunas.

Aos poucos começo a sentir meu suor escorrendo pelo meu rosto, pelo menos o refresco do vento que corre em campo aberto ajuda a equilibrar minha temperatura, que cada vez mais começava a aumentar. Sigo ofegante, suspirando cada vez mais a cada passo dado. Os saltos que dou para driblar os escombros ficam cada vez mais difíceis de serem executados, forçando-me a escalar algumas pedras do que simplesmente pular.

Já não sei há quanto tempo estou aqui, mas sei que estou em minha sétima volta. Segurando-me veemente a garrafa com água, trago-a aos meus lábios, que de tanto correr já estão secos, e dou alguns goles sem parar a corrida. O líquido não está mais fresco, diferente de quando o peguei na estalagem, está morno, na temperatura ambiente. Mas, para ser franca, admiro que não esteja quente, o que já me vez recebe-lo de bom grado.

O sol já começa a incidir cada vez mais, e aos poucos sua luz começa a esquentar o ambiente. Nos primeiros instantes não me incomodou, aquele sol de manhã ainda fraco não era capaz de causar grande incômodo. Continuo a corrida, porém percebo estar perdendo rendimento, minhas pernas estão cada vez mais pesadas e meus movimentos cada vez mais difíceis.

Desapercebida do tempo, estava mais preocupada em executar minhas ações do que a luz que cada vez mais tornava-se forte. Até que repentinamente um clarão invadiu minha vista e forçou-me a parar, caindo de costas sobre o chão. Por sorte, o vasto compo é coberto por grama, e por meio dela meu corpo foi amortecido da queda. Mas ainda devo continuar, preciso resistir e fortalecer o meu físico, para que eu possa enfrentar os obstáculos que posso encontrar mundo afora, enquanto desvendo os mistérios do meu passado.

Considerações: