[Ficha de Personagem] Nethphia Von Lyfalia

Capitulo 01 – Meu passado - Ano H771 - H773.
Eu não lembro exatamente como nasci e de onde vim, para ser sincero, minha origem é um segredo que nem mesmo eu fui capaz de desvendar, lembro que com três anos eu já estava naquela velharia quase caindo aos pedaços que chamam de orfanato, se não me falhe a memória tinha apenas dois amigos, Lucky e Esx, quem sabe seus nomes estejam errado, não importa, não é relevante. Lembro que eles eram o que os humanos chamam de “melhores amigos”, estávamos sempre juntos e quando um se encrencava todos ajudavam e bom, quando não se tem pais ou familiares a coisa mais fácil do mundo é se encrencar.

Existiam muitas crianças no orfanato e algumas poucas senhoras de idade e bondosas jovens que ajudavam a cuidar de todos, a renda era muita escassa, lembro disso pois a comida era pouca e tinha dias que não jantávamos para economizar para o almoço do dia seguinte, para melhorar a situação eu era o único diferente de todos... Enquanto todas as demais crianças eram humanas, eu era uma felina, sim, eu esqueci de contar isso também, eu não sou uma simples humana, eu sou algo que chamam de Nekomata, uma gata com traços humanos, acho bizarro, principalmente por não ter convivido com meu povo, por não me aprofundar na minha própria cultura.

Mesmo com os pesares, eu me recordo de ser feliz, de me sentir bem naquele lugar, brincando, aprendendo e vivendo com meus amigos, no entanto quando tinha nove anos tudo começou a mudar, Esx tinha doze anos quando um casal de humanos resolveu adota-lo, foi um dos dias mais dolorosos para mim e Lucky, perdemos nosso amigo e nem mesmo saberíamos se um dia iriamos nos reencontrar, mas aquilo foi só o início.

Capitulo 02 – O declínio - Ano H780.
Após a ida de Esx tudo começou a ficar estranhamento diferente, mesmo tão novo eu conseguia sentir o clima tenso pelo ar, até mesmo Lucky estava mais distante, começou a brincar com as demais crianças e com o tempo eu comecei a me sentir sozinho, abandonado e desamparado — lembro perfeitamente bem dessa época, é como se minha memória estivesse dividida em capítulos e alguns eu mal consigo me recordar, enquanto outros estão claro como sol. Mesmo sozinho continuei sendo quem sempre fui, naquela idade eu já poderia agir de maneira mais felina, andava pelo centro da cidade escalando os prédios e roubando frutas e brinquedos, não via problema naquilo, a maioria dos comércios que eu roubava tinha muitos outros exemplares, mesmo assim, fazer o que eu fazia gerava uma fama e ela acabou aumentando com o tempo.

Foi aos meus dez ano que resolveram agir contra mim, o orfanato recebeu um homem, alto, que estava todo trajado de vestes elegantes e nobres, ele não queria ver nenhuma criança, apenas conversar e oferecer algo a governanta, eu não devia, mas não me segurei, segui os dois de forma furtiva e fiquei ouvindo pela parede, o homem queria investir no orfanato, reforma-lo por inteiro e aumentar a renda mensal para suprimentos e novos ajudantes, no entanto ele tinha um pedido em troca —— Tire a felina daqui, envie-a de volta a sua terra, lá possui ótimos orfanatos, aqui deve ser nosso, dos humanos, nenhuma outra espécie deve viver no que é nosso! —— disse ele, de forma autoritária e rude, a governanta obviamente recusou de imediato, mas ele prometeu que ela se arrependeria.

Capitulo 03 – A praga. - Ano H780.
As palavras daquele moço mexeram comigo por um tempo, eu lembro de me isolar por um tempo, não falava com nenhuma criança, respondia apenas o necessário as ajudantes e me recusava a ir para os passeios e tarefas diárias, me sentia mal, sozinha e incompreendida, cogitei absurdos, mas nunca tive coragem para executa-los. Lucky tentou se reaproximar de mim nesse tempo, vinha me ver na cama todo o dia e tentava conversar comigo, nos primeiro dia recusei, mas com o tempo comecei a conversar novamente com ele, pouco a pouco, aquilo parecia um gesto muito simples, mas fazia com que eu falasse e contasse o que sentia. Não posso esquecer dos sonhos, toda noite eu sonhava com o mesmo pesadelo, uma noite escura, uma tempestade e uma senhora que carregava uma lamparina, tudo estava muito escuro, mas a lamparina iluminava um corredor de madeira, e quando cai um trovão iluminando tudo consigo reconhecer o local: o orfanato, ela se encaminha para a pequena escada que levava ao segundo andar, onde as crianças e eu dormia, quando ela finalmente chegava lá caminhava em direção a minha cama, tocava-me e dizia uma única palavra: desperte e depois disso eu sempre acordava, nas primeiras duas noite extremamente assustado, gritando, mas com o tempo fui começando a me acostumar, sentia-me mal sempre, mas evitei gritos, choros e desespero. Lucky era o único que sabia do sonho, mas sentia algo ruim toda vez que eu contava.

Capitulo 04 – A tempestade - Ano H781.
Os sonhos continuaram por exatamente três meses, eu já estava cada vez mais acostumado com ele ao ponto de ignorar boa parte, no entanto, numa ultima semana em especifico eu comecei a me incomodar com a frase da senhora “desperte”, sua entonação parecia mudar, parecia está mais autoritária, como se ordenasse que eu despertasse, mas eu não compreendia nada. Graças a Lucky eu estava começando a me reintegrar no orfanato, voltando a conversar com os demais órfãs e até mesmo contei sobre os sonhos e os problemas a governanta, ela começou a ser mais atenciosa comigo, mas eu sentia que algo estava estranho.

O grande dia dessa história finalmente teria chegado, meu aniversário de dez anos, lembro-me perfeitamente de cada detalhe dele, eu estava ansiosa, animada pois no orfanato as festas de dez anos eram comemoradas de forma especial, e mesmo sem muita renda as governantas se esforçavam para fazer pelo menos um simples bolo acompanhado de boas músicas para todos se divertirem, passamos a tarde arrumando o jardim, colocando balões e tudo mais, mas não contávamos com a chuva que começou por volta das 04:00 pm, começou fraca, mas quanto mais a noite ficava, mais forte ela também se tornava e por mais estranho que pareça, teria uma eclipse naquela noite, o mundo estaria tomado pela escuridão exatamente as 10:10 pm — pelo menos era o que dizia os noticiários —. Bom, a festa continuou, mais dentro do orfanato e sem muitos balões, mesmo assim foi divertido, pelo menos até as 08:00 pm, estávamos todos, exatamente todos na sala quando ouvimos um prato se quebrar na cozinha, as ajudantes e a governanta foram verificar e apenas disseram —— Deve ter sido apenas um animal ——, todos acreditaram, mas já estava ficando tarde e todos deviam ir tomar seus banhos para ir se deitar.

Tomei meu banho assim como as outras crianças, vesti meu pijama e me deitei, mas era impossível dormir, bom, pelo menos para mim, muitas crianças já estavam roncando e dormindo antes mesmo de eu retornar do banho. Mas uma ainda estava acordada, Lucky. Chamei pelo seu nome sussurrando, nossas camas eram vizinhas, ele ouviu e se levantou, indo até minha cama —— Não consegue dormir também? —— perguntei —— Não, inclusive queria ver o eclipse antes de dormir, nunca vi um —— respondeu e ficamos conversando um pouco, o tempo foi passando até que percebemos que era 10:00 pm, resolvemos ousar e ir até a janela, queríamos ir ao telhado, mas a tempestade não permitiria. Ficamos vendo a formação do eclipse e quanto mais perto estava, mais estranho eu me sentia, era como se algo dentro do meu corpo se remexesse, quisesse sair, as exatas 10:09 pm, faltando um minuto para o eclipse total, Lucky olhou para mim e me roubou um beijo, sem motivo algum, não explicou, apenas roubou ao beijo e saiu, senti-me estranho, mas continuei pela janela, vi o eclipse se formar e era como se eu não tivesse mais controle do meu corpo, desci os degraus e abri a porta do orfanato, subi de volta, me deitei e apaguei, não me recordo de mais nada até os sussurros.

—— Desperte! —— ouvi e despertei, mas não lembro de sonhar naquela noite, algo estava diferente, olhei para o lado e não vi nada, mas quando olhei para frente vi ele, Lucky, tentando gritar por ajuda, sangrando, mas nenhum som saia, imediatamente tentei gritar, mas uma mão envolveu minha boca e me calou, uma faca alcançou minha garganta e a lamparina cegou-me pela clareza na escuridão, aquilo não era um sonho mais, era real. —— Você irá partir, como pedido por aquele homem três meses atrás, irá atrás do que é seu, irá atrás da escuridão que vive em seu peito e caso se recuse, tiraremos tudo de você, assim como tiramos seus pais, assim como tiramos Esx e assim como tiraremos Lucky —— disse a velha, após isso ela apenas mexeu um dedo e eu vi o corpo de Lucky se contorcer pelo chão, conseguia sentir a dor que ele sentia, mas não conseguia fazer nada, não podia fazer nada, após assistir aquela cena não me lembro bem o que aconteceu depois, ouvi a governanta gritar alguns versos em uma língua desconhecida e a clareza da lamparina sumiu, a tempestade cessou e nenhuma mão mais pairava sobre minha boca.

Ela correu para ajudar Lucky, mas já era tarde, todas as outras crianças ainda dormia, ela mirou fixamente nos meus olhos e disse —— Parta Nethphia, sua alma guarda um segredo e escuridão muito sombrio para esse lugar, enquanto estiver aqui não terá paz, você tem que encontrar seu caminho, tem que entender a escuridão em seu peito e tem que controla-la, forças malignas lhe desejam desde do primeiro dia que pisou aqui, eu lhe protegi até hoje, mas não consigo mais, não tenho mais forças para combater o mal que lhe cerca, fuja, mas não desista, só você pode enfrentar a isso, mas não se permita ser dominada, pois se isso acontecer, perderá sua essência para todo o sempre —— tinha apenas dez anos, era impossível entender aquilo, mas acatei, reuni o pouco que tinha e fui embora, a governanta me deu suprimentos para alguns poucos dias, mas sabia que eu iria arranjar mais. Aquela noite foi muito confusa, mas me mudou de forma definitiva.

Capitulo 05 – Hoje em dia - Inicio do RPG - H790.
Vivo em Martis, seguindo a trilha da minha jornada, nunca mais tive nenhum sonho estranho. Vivo sem um lar, mas roubo de muitos, pura sobrevivência, mas não me importo, com dezenove anos a perspectiva de vida de uma pessoa é bem mais ampla e na minha, todos devem compreender e entender a dor uns dos outros, não me importa como, meus objetivos ainda são muito complexo, mas meus planos simples e diretos: me vingarei daquela que me fez perder tudo, farei o mundo sentir a mesma dor que eu senti, a dor de perder a quem ama, a dor de não possuir uma família ou um lar, a dor de ser uma criança de dez anos sem ter o que comer, de passar fome, frio, sede, destruirei aqueles que comandam a sociedade, os tirarei de seus tronos e tomarei o que é meu por direito: tudo.