[Treinamento Solo] - Simon M. Stilinski

Menino Gato-Peixe

As terras de Aflesia era um terreno novo para mim, as pessoas eram desconhecidas, mas havia algo que não mudava muito: a água. E se eu queria sobreviver nesse novo continente, eu teria que ter algo que me diferenciasse dos demais, que me desse algum tipo de vantagem em combate. Eu poderia focar na minha visão e agilidade para me tornar inatingível, só que eu não era rápido o bastante para isso, então eu devia aprender a lutar na água, que era minha segunda melhor diferença entre as outras pessoas.

Adentrei no oceano que banhava Aflesia, a água estava extremamente gelada e eu certamente pegaria um resfriado ao sair dali. Minhas mãos começaram a tremer, mas fui em frente e mergulhei, podendo ver claramente a vida marinha: as algas, os peixes, recifes de corais e certamente algum animal perigoso devia viver nas profundezas daquele lugar, onde eu provavelmente nunca tentaria alcançar.

Para um gato, eu estava indo bem, sem medo da água. Agora tudo que eu precisava fazer era começar a socar a água, ja que chutes seriam um pouco impossíveis pela membrana em meus dedos. Utilizei meus pés desnudos para me manter a um nível bom dentro da água e comecei os movimentos com os punhos, primeiro com a direita, depois com a esquerda, e repetindo. A água parecia me devolver a pressão, pois era extremamente difícil esticar meu braço por completo sem desacelerar.

O frio também não facilitava, eu sentia minhas mãos congelarem e eu deveria estar com os lábios roxos. Continuei os movimentos com os punhos, e a água repentinamente mudou seu curso, me enviando uma corrente de água ainda mais fria que o restante do local. Eu não estava usando nada além de uma cueca preta, deixando minhas escamas e pelos a mostra, e por isso o frio penetrava ainda mais em meu corpo.

Minha mãe sempre dizia que se eu fizesse algo por muito tempo ou muitas vezes, eu me acostumaria. Mesmo tendo quase certeza de que era a maneira dela de me mandar fazer o dever de casa, acho que esse caso se aplica aqui também. Conforme o tempo passava, e eu era exposto ao frio da água, meu corpo se acostumava aquilo até um momento em que não incomodava tanto. Isso identificava que na próxima vez que eu fosse lutar, eu seria um pouco mais resistente, pelo menos em relação ao frio, mas talvez em algo mais.

Agora que eu já havia treinado um pouco dentro da água e sabia que eu podia me tornar a água, eu precisava saber o que mais além da minha aparência de peixe eu poderia fazer. Decidi sair da água, sentindo o vento contornar meu corpo, me deixando com um pouco mais de frio e uma péssima concentração. No entanto, ainda estava curioso com o quão grande seria o alcance do meu poder e certamente eu iria tentar dar o meu máximo para descobrir tudo que eu podia sobre minha família por parte de pai.

Estiquei meu braço em direção a água corrente do rio, e tentei estabelecer algum tipo de conexão psíquica com a água, para que ela seguisse as minhas ordens. Claramente não era assim que funcionava, visto que ela simplesmente me ignorou e seguiu seu curso. Em seguida, tentei um segundo método, que talvez funcionasse melhor. Fechei meus olhos, inspirei, e soltei o ar novamente, imaginando que o meu corpo fosse uma extensão do oceano, para me sentir parte da água.

O meu sangue novamente começou a correr rápido, como da última vez que virei água. Eu pude sentir o curso da água, o som que ela fazia de um lado para o outro, meu corpo entrava em certa sincronia com a água e eu pude imaginar, ainda de olhos fechados, a água flutuar a minha frente, estabelecendo um certo controle sobre ela. Porém, quando abri os olhos novamente, a água não havia respondido o meu chamado, ainda estava em seu simples movimento de vai e vem.

Dei um suspiro de decepção, e deixei o braço que estava esticado a minha frente, cair na lateral do meu corpo, e logo quando eu havia desistido de controlar qualquer coisa que não fosse o meu próprio corpo, eu senti. Alguma coisa parecia nadar dentro de mim, se batendo de um lado para o outro como se fosse uma cobra. Essa coisa gélida subiu pela minha traqueia até a minha boca em busca de um lugar para sair, e foi então que eu soltei um pouco de água pela boca, não era muito, mas já era um começo e já me mostrava que eu podia fazer muito mais do que apenas virar água.

Com o treino concluído, eu só precisava fazer mais uma coisa: Encontrar um lugar que hospedasse um menino gato-peixe. Vesti minha rouba novamente e segui para o centro da cidade de Martis.

Considerações: